o advindo das carniças

agouro o futuro nos pássaros negros,

loucos, loucos eles nadam sobre o odor pútrido das carniças,

sangue de pedras partidas, debaixo do sapato

sangue, redemoinho de máquinas pressupondo a hora do almoço, a sopa de osso,

carniças, carícias ela pede desnuda, despida a inocência da morte,

sobre o túmulo do amante, túmidas vaginas sapateiam a despedida do sol

no cemitério de barro, na areia dos templos,

memoriais da dissolução do tempo,

pílulas de universos

comprimidos nas mãos de deus e do diabo, o diabo nos olhos da menina,

a menina batizada no sangue dos bois nos pastos da fúria,

a menina de branco vestida para as núpcias, ela é virgem, mas seu noivo é o diabo,

sangue debaixo do sapato, é o sangue do teu irmão

colhido das flores do mato, do espinho silvestre, é o sangue da messe,

a nascença do medo

e a dor, cesto de cruzes quebradas e cobras, covis de olhos humanos

nas janelas da noite, o sétimo dia da morte,

o dia do nascimento fecundo das ramas do trigo, os bagos do trigo, o pão mendigo

da fome, é meu irmão aquela carcaça úmida e doente chupando ossos

de macaco?, é meu pai, é meu pai e minha mãe, meu dna apodrece nas veias

cantando a profecia da noite, a profecia da lua,

cumpre-se agora a profecia da lua, ela vem menina com sete vaginas

e deita no leito incestuoso de um filho, um filho morto, assassinado pela luz do dia,

sangue debaixo do sapato,

a mesa do almoço posta com sete toalhas roxas e molho de fel da garganta do abismo,

o poço sem fundo da civilização, o limo lúgubre da língua

nas carniças de um irmão, o advindo vindo

andré boniatti
Enviado por andré boniatti em 05/04/2006
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