Diarréia poética
Aos puritanos arqueológos da poesia, com asco!
Minha poesia é trágica,
Patética, sistematicamente ex-tética,
Esquematicamente diurética, frenética.
Ela não cria mundos, pelo contrário,
Cuida para destruir alguns, se possível.
Não quero uma poesia perfeita, aceita,
Com amores e dores naufragados e encharcados
Nos pareceres intelectuais da academia.
Quero a anarquia poética, nostalgia insana,
Diarréia letrada e fixada nos supostos erros.
Minha poesia é de bêbados ensandecidos,
Maridos traídos, mendigos aturdidos,
Prostitutas de seios caídos e, mesmo assim,
Envaidecidos por versos pútridos.
Para alguns, eu sei, a poesia é mais que isso.
Poesia, para eles, é caminhada em terreno celestial,
Beijo no gigante espacial, abnegação do solo coloquial,
Concupiscência pelo magistral, sensorial, sensual/sexual,
Só isso, para eles que são “sábios”.
Não quero ser tão correto com minhas linhas.
Quero subverter o que é sensato, saldar o pacato,
Escrever, se possível, sem tanto trato, no meio do mato,
Sem flores na lapela ou lustrado sapato,
As loucuras que o meu corpo expele e que, em verdade,
São nojentas demais para os intelectuais.