A CABEÇA AGUENTA

Estou no sol

Chuva e vento

Meu pulso destoa

Meu sangue é areia

Estou no limbo no mofo

Estou que é só osso

No substrato

Zona fantasma

Tudo cinza, roxo

O blue dos becos e das vielas sem cor é meu hino

Estou só na cidade mil

Estou sóbrio na cidade ébria

Estou sem Buda sem Krishna sem deus

Estou só no subsolo

No pó do deserto

No ermo dos sós

No horto do podre onde mora o cão

Não, não desça

Não me acompanhe

Não me fale em iluminação

Não queira rasgar o véu

Deixa assim tudo na névoa

É melhor pra você

Não queira saber da viela

Da miséria

Das almas aflitas

Do grito do pensamento em desacerto

Não venha à sarjeta

Deixe-me com meus nós

Só com meus fios

Que vou reatar as pontas

Refazer as contas

Clamar aos céus

Comer o pão que o diabo rejeitou

Não, não se espante com este canto

É só um jeito de não ficar louco