A TRANSA

A TRANSA

Um dia depois do murmúrio e da dor em que nossas pernas se cruzaram

Depois que as lágrimas transbordaram do mergulho do afago

E que o silêncio foi a última palavra dita

E não acordamos nus abraçados e o olhar deu bom dia calado

Os cabelos, os lençóis, as manchas, os papéis espalhados

A poeira que todos os dias sujam os dias por mais que os limpemos

E a rua, que por ser rua foi pisada sem respeito, cuspida e atropelada

E a roupa por ser roupa foi usada, suja e abandonada

E o sexo por ser sexo foi pago, praticado e prostituído

Numa manhã como todas as outras manhãs dolorosas

Batemos palmas nas calçadas para o vai e vem perdido das pernas

E não alcançamos objetivo nenhum além do nosso limite

...paguei a divida há dois dias

A dívida impagável na fila da solidão em conjunto,

Da desgraça alheia, da paz banhada em sangue

E do amor: a maior dívida de todas, sempre com uma parcela atrasada

E a doença por estar doente me lembrou que envelheço a cada ano.

Sentamos, rindo de medo, de pavor, felizes por estarmos cansados

De dizer sempre as mesmas coisas e decidimos por fim a tudo...

Rojefferson Moraes
Enviado por Rojefferson Moraes em 02/04/2011
Código do texto: T2885869
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