O POETA QUE SE FRITE, QUE SE FODA, MAS NÃO TIRE A CABEÇA

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Os olhos fechados do poeta não curam nada

não saram feridas

tudo se acumula

estocado nos cantos

nos porões da alma

nas letras nas gavetas na pias sujas e pratos por lavar

lavrar e semear todo dia

na mesma ferida

é sua necessidade básica tanto quanto ouvir música

ou buscar luz em velhas poesias

em tratados alquímicos

nos preceitos dos profetas

e nas letras perfeitas .

você sabe como é

como disse Dylan

satã surge as vezes como um homem de paz

mas se revela e vai uivar na noite

e a cobra rainha sai então por aí...

não!

não há saída fácil

quando se perde as rédeas condutoras do carro nosso de-cada-dia

e aí tem que ser reza forte

ou a babel cresce por dentro e te leva pro alto/ pro salto.