Privação

Deixe minha boca muda

Meus olhos cegos

Meus ouvidos surdos

Mas não me deixe

Não permita que eu sinta ausência

Mesmo nos meus surtos de demência...

Não, não peço clemência

Só me dói demais a indiferença

E por tudo posso sofrer

Menos pelo seu abandono

Tem meu coração

Ainda que esfacelado

Não é tão inútil assim

Já não conheço inferno maior

Que seu silêncio

Se houver martírio mais atroz

Diga-me!

Não é suficiente a mudez

Nem a cegueira

Ou a ausência de som

Prefiro deixar na boca o seu batom

E me emaranhar nesses cabelos

De fios sedosos e avermelhados

Estou mudo

Já não consigo ver

E nem ouvir seus passos

Parece distante e fria

Seu prazer é provocar em mim agonia

E depois sorrir com escárnio

Ironicamente sem me poupar

Já que é para um coração matar

Não tenha medo

Já senti todos os pavores

E esse horror me é familiar

O acaso caminha comigo

Ter você é um doce perigo

E desse sofrimento não quero me privar

Se for para me maltratar

Com orgulho subjugar

Não me prive do sentido do tato

Explorar seu corpo é um ato

Que eu não quero deixar de fazer

Mesmo assim sem merecer

Mesmo sem poder falar

Ver ou ouvir seu canto

Agora que invadiu meu recanto

É com você que eu quero ficar...

Paulo Raven
Enviado por Paulo Raven em 04/02/2020
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