Privação
Deixe minha boca muda
Meus olhos cegos
Meus ouvidos surdos
Mas não me deixe
Não permita que eu sinta ausência
Mesmo nos meus surtos de demência...
Não, não peço clemência
Só me dói demais a indiferença
E por tudo posso sofrer
Menos pelo seu abandono
Tem meu coração
Ainda que esfacelado
Não é tão inútil assim
Já não conheço inferno maior
Que seu silêncio
Se houver martírio mais atroz
Diga-me!
Não é suficiente a mudez
Nem a cegueira
Ou a ausência de som
Prefiro deixar na boca o seu batom
E me emaranhar nesses cabelos
De fios sedosos e avermelhados
Estou mudo
Já não consigo ver
E nem ouvir seus passos
Parece distante e fria
Seu prazer é provocar em mim agonia
E depois sorrir com escárnio
Ironicamente sem me poupar
Já que é para um coração matar
Não tenha medo
Já senti todos os pavores
E esse horror me é familiar
O acaso caminha comigo
Ter você é um doce perigo
E desse sofrimento não quero me privar
Se for para me maltratar
Com orgulho subjugar
Não me prive do sentido do tato
Explorar seu corpo é um ato
Que eu não quero deixar de fazer
Mesmo assim sem merecer
Mesmo sem poder falar
Ver ou ouvir seu canto
Agora que invadiu meu recanto
É com você que eu quero ficar...