Pecados
Muito além dos sete são meus pecados
Capitais, infindáveis são minhas faces,
Laterais, vícios que me infestam, vesperais
Mais de mil os meus demônios, homônimos
Milhões são os hormônios, leis que não transigem
E assim só me resta transgressão
A soberba me sobe os telhados
Altos, esgrimam meus orgulhos
Mirrados, destelham minhas vaidades
Incautas, isola-me aos cantos
Escuros da ignorância onde
Ainda incita-me arrogante
Essa gula monstruosa que mastiga
Pelas bocas, as minhas mentiras engolidas
Feito sapos pela goela, que descem as gargantas
Carcomidas pela fome que me consome aos bocados,
Castiga-me subitamente os predicados
Enjoa-me esses estômagos fatigados
A preguiça cochila em minhas redes
Abraçada a essas negligentes horas
Cansadas, nos desanimados momentos
De pecaminosa indolência, nos ócios reptilianos
Avessa aos ônus, de cabeça jogada
Nessas letárgicas ancas desleixadas
Tenho inveja imponderável, soberana das
Minhas ambições, vontades, dos meus objetos
Desejados, possuidora dos meus ciúmes
Inegáveis, minhas cobiças calejadas, desgostos
Sofridos dos sucessos alheios, objetivos
Malditos, minhas trágicas covardias
A Avareza me consume aos potes de ouro
Dos meus pescoços secos das riquezas
Nobres desses seres mesquinhos, miseráveis corpos
Mortos pela fome na mão do avaro dos dinheiros
Lacrados em meus cofres desencadeados lotados
De amarguras sovinas do meu caráter módico
A Luxúria violenta-me loucamente
Consome o meu corpo, meu sexo aprende
A suar na febre alta de lascívia, insaciável
Tesão animal que corre em minhas mentes
Que explode em prazeres carnais e afoga-me
Na sensualidade, em selvageria sexual
Enfim, tomado pela Ira das bestas, pela
Raiva incontida nos peitos, a alma clama
Pelo fio frio da navalha, pela vingança das lutas
Perdidas, dos ódios de minhas feridas que rugem
De fúria nas penúrias dos meus rancores,
Cravados no peito cheio de cólera a espera da punição.
Ínfimos são meus sete pecados capitais
Pois em mim vivem sete mil culpas mortais
Ocultas em minhas personalidades tão múltiplas
Em minhas dúvidas obscuras de Jekyll
Em minha insanidade crua de Hyde
Nos meus temores mais profundos.