POBRE NATAL...
Olhem, já é Natal!
À primeira vista diria que qualquer pessoa não terá dificuldade em reconhecê-lo...
Por todo o lado há Enfeites, luzes e crianças ansiosas e sorridentes.
E no entanto o que me diz o Natal?!...
Cruzo-me com chefes de família com expressões preocupadas...
Talvez tenham os seus empregos em risco
Ou simplesmente seja o ordenado que já não chegue ao fim dos mês.
Mas cruzo-me com pessoas que não são chefes de família
E as suas expressões também não são de alegria.
Cruzo-me com amigos de longa data
E nos seus rostos baila uma nuvem sombria.
É Natal mas percebo que a Festa é apenas de alguns.
Recordo outros tempos também difíceis mas dos sorrisos abertos...
Eram tempos em que os sonhos não voavam tão alto
E por isso mesmo não existiam tantas desilusões.
As desilusões derrotam o corpo e destroçam a alma.
Não quero este Natal para mim!
O Natal já só tem apenas o odor da falsidade humana.
Não pode existir um Natal legítimo
Quando existem estômagos amargurados
E seres humanos tombando nos teatros de guerra!
Não pode existir um Natal genuíno
Quando indivíduos desprovidos de sentimentos
Garimpam fortunas do sangue e suor alheios.
Não!... Os corpos e as almas estão a saque!
Cristo não morreu para que floresçam indignidades.
Tenho vergonha que Ele algum dia me fite no rosto
E veja que eu nada fiz para evitar tais indignidades!
Nem sequer irei argumentar que não tenho poder algum...
A vergonha pertence apenas aos que se contentam com os ossos que os cães lhes atiram.
Os seres humanos perderam a noção de unidade
E vão riscando do seu íntimo palavras como “solidariedade”.
É muito mais cómodo encolher os ombros
E imaginar que acontece apenas aos outros...
Meu pobre Natal!...
Sobrevives na lama como um moribundo miserável
E eu encolho-me com a minha vergonha nos braços...
O Natal é mais um dia do Calendário Desencantado!
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in POEMAS SOMBRIOS
de NelSon Brio
23.12.2008