Noite no teatro

Sob uma tempestade de aplausos demorados,

os atores não conseguem mais sair do palco.

Não há um guarda-chuva ao redor de nada

e as roupas da peça molhadas de suor esfriam,

e a testa de todos estão como mármores molhados.

Gestos de deferência e gratidão são distribuídos

para todos os lados e do fundo do palco

o cenário se lança aos olhos dos expectadores.

-

Você está feliz de pé batendo palmas ao meu

lado; eis aí a realidade causada pela arte;

na saída do teatro o povo se aperta e acumula.

Chovem cântaros sobre o rio da rua e o refúgio

é o do hall da entrada. Forte abraço nos une.

A peça assistida não era uma comédia e o drama

não era assim tão trágico para um rio de lágrimas.

-

Não estamos molhados ou suados nem cansados

ainda, mas aumenta a vontade de voltar para casa,

os atores se espalham pelo hall e cumprimentados

fazem parte agora de história fora do roteiro;

apesar de ser dez horas da noite a cafeteria

recebe muitas comandas de café com bolo,

a defesa civil informa que árvores caem ao redor,

no momento é impossível sermos atores da própria

vida. A tempestade não merece nossos aplausos.

Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 17/01/2022
Código do texto: T7431219
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