Noite no teatro
Sob uma tempestade de aplausos demorados,
os atores não conseguem mais sair do palco.
Não há um guarda-chuva ao redor de nada
e as roupas da peça molhadas de suor esfriam,
e a testa de todos estão como mármores molhados.
Gestos de deferência e gratidão são distribuídos
para todos os lados e do fundo do palco
o cenário se lança aos olhos dos expectadores.
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Você está feliz de pé batendo palmas ao meu
lado; eis aí a realidade causada pela arte;
na saída do teatro o povo se aperta e acumula.
Chovem cântaros sobre o rio da rua e o refúgio
é o do hall da entrada. Forte abraço nos une.
A peça assistida não era uma comédia e o drama
não era assim tão trágico para um rio de lágrimas.
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Não estamos molhados ou suados nem cansados
ainda, mas aumenta a vontade de voltar para casa,
os atores se espalham pelo hall e cumprimentados
fazem parte agora de história fora do roteiro;
apesar de ser dez horas da noite a cafeteria
recebe muitas comandas de café com bolo,
a defesa civil informa que árvores caem ao redor,
no momento é impossível sermos atores da própria
vida. A tempestade não merece nossos aplausos.