Cansei de falar

Sim, é possível...

Adiantaria explicar mais uma vez?

Ah, deixar fluir...

Só deixaria se fosse realmente necessário.

Achas? Mesmo?

Então faço tua vontade,

obedeço mais um de teus caprichos.

Não, não há mais amor.

O que sobra sempre é nada,

vazio mesmo,

e o vazio por vezes dói.

Quase todas as vezes que o amor se retira

e deixa em seu lugar o vazio

pensa-se não mais estar vivo!

O ser é tão pequeno, não?

Como ser dizimado pela falta?

Por apenas uma falta?

As faltas doem,

não mais que as presenças não pensadas

de certo que não.

Presenças não pensadas,

maledicentes, ímpias

são de fato piores do que as faltas.

Nas faltas sonhamos com

um outro,

que jaz.

Ou que nunca houve.

Mas assim são...

Como os perfumes das flores que nunca sentimos

Há flores tão belas ao longe,

e seus perfumes parecem ser os melhores.

Ao sonhar com suas fragrâncias

nos deixamos entrar no imaginário...

quisera as flores terem para exalar

exatamente o que nossas quimeras

as deixaram e deram até!

Assim são os amores,

quando se acabam damos a eles

sedas, frangrâncias... cores, sons,

que eles jamais tiveram enquanto

presentes nas orbes terrestres.

Por isso mesmo usa-se o nome romântico,

praquelas criaturas mágicas,

que puderam e quiseram amar.

Elas dão novo sentido

ao seu objeto de afeição.

Ah... de certo que todo amante

é na verdade poeta.

Talvez só aos poetas tenha

sido dada a dádiva de amar,

só o poeta sabe exprimir com exatidão

aquilo que existe em sua alma!

Sede poeta maldito!

Sede poeta e ame!

Não profanes o nome de tua bem amada!

Não ouse fazer poesia como quem faz

uma construção,

medidindo, calculando,

dando formas num esboço

e após colocando concreto e tijolos.

Faze poesia como quem faz amor,

de uma primeira vez com alguém

que lhe é desconhecido,

mas que seus corações

batam numa só sinfonia...

aprende que escrever é descobrir

os próprios limites através

do outro, e explorar

os limites de teu objeto

de estima até o êxtase,

que de fato é teu!

Luandra Russo
Enviado por Luandra Russo em 05/05/2006
Código do texto: T150635