Meus vinte e poucos anos...
Quanto de mim se foi
Quanto submergi pelo mundo
No fundo de um sonho
Dialético...
Penso enquanto faço planos
Pleno em meus vinte e poucos anos
Viajo pelos canos
do submundo absurdo do meu plano
Pleno de discórdia
viagens
Conhecimento
Manos
e insanos...
Percorri até aqui
Deixando vestígios
Em cada canto desse mundo-louco-cão
Em cantos malucos desse universo...
Até aqui...
- inverso-invertendo na incerteza -
Amei e fui amado
Aprofundei-me nas longas conversas
Com amigos e com aqueles que fiz olhares
Sem ares, aos pares
Com muita satisfação...
Lumpens foram,
em algum tempo,
meus interlocutores...
Ouvi-os como observo as pessoas que me desprezam:
Atento e com a angustia fustigante do mundo
...
Nesses vinte e poucos,
Loucos,
Vi, por todos os lados...
Em todas as quebradas
Em cada canto-escuro
dancei...
Músicas fiz para os afetos daqueles por quem fui abraçado
Saudado por guerreiros nos lugares em que fui
meu
amigos...
Prezei a luta diária pela efêmera existência...
Fui Kamau em momentos de Husani
Em vezes que mais se pareciam com mais
Menos nos momentos em que Husani fui
Em que Kamau sempre se inspirou na memória...
Quase morri variadas vezes
Vivi nesse plano absurdo
Esquivando-me do assolamento que abate os tolos
Invejosos calcaram no meu encalço
Mas...
"para que tenham pés e não me alcancem,
para que tenham mãos e não me toquem..."
Corpo fechado!
Minhas guias imaginárias sempre me protegeram
Ancestrais diaspóricos estiveram ao meu redor
Iluminando cada passo
Cada verso que rimo em poesias
Em cada luta que travei sob o metal e o concreto
Em cada linha que li dissolvendo essa solidão...
Fiz da teoria prática-teórica
Da prática, nela
Fugi da apática rudeza do mundo sofrido
e, em rua, em rima
Tirei de cada linha
torta
vida
A inveja te consome...
Quando
em cada plano que piso
Deixo minha marca
Profunda como das chibatas na história
...
Denso, fui, como grilhões dos navios
que se desmancham em mares de revolta
De troca...
Transformações...
Vinte e poucos
por muitos
Fiz vida ser vivida
Sem 'valor-de-troca'
Mas com as palavras que sempre tocam
em cada esquina
em cada latrina desse mundo sujo
Onde, mais que eterno,
Gravei, em graves,
meu nome nos muros vivos da História...