Proximidade da distância

A proximidade da distância

Perceber que a distância é o termômetro da proximidade, que a separação comprova o quanto o coração está ou não unido a algo ou a alguém;

Proximidade que também revela conflitos existentes no interior, que precisam ser esclarecidos, resolvidos, definidos, onde são necessários distância, afastamento, enfim, pedir um tempo;

Afastar-se para olhar de fora o quanto se está dentro, o quanto se está enraizado ou não; onde é possível purificar a verdade, sair do engano da superfície e adentrar na autenticidade da essência; identificar as fraquezas, descobrir fortalezas que permitem a superação de quaisquer obstáculos que impeçam o retorno e a permanência;

Dar um tempo, ou melhor, dar o tempo é necessidade, que vai além do querer. Às vezes não se deseja o afastamento, a saída, o término, o “sumiço”, mas é necessário para melhor estar e ser.

Há paradoxos que necessitam de uma compreensão mais cautelosa. É preciso banir a influência maléfica da pressa de um julgamento sem critério ou do incômodo do imediatismo que quer arrancar uma resposta parcial do nosso coração.

Precisamos entender que às vezes a saída é um retorno, que o término é início, que o rompimento é ligamento, que o não é sim e, enfim, que muitas vezes perder é ganhar.

Uma bela obra de arte não pode ser observada de muito perto. Às vezes por ficarmos com o nariz em cima do quadro, deixamos de admirá-lo e reconhecê-lo na sua original e total beleza. É preciso um pouco de distância para poder enxergar melhor as coisas, numa visão holística, subjetiva para se obter uma avaliação qualitativa. Costumamos dizer que não importa a quantidade, mas a qualidade, isto é verdade, porém, a qualidade está escondida na totalidade.

Afastar-se é tentativa de retorno, talvez de outra forma, na íntegra e íntima forma do eu, das próprias aspirações, sonhos e anseios. É uma oportunidade para enxergar, como num raio-X, o que há e o que não há no mais profundo do coração; perceber os excessos ou os vazios e a partir daí encontrar a convicção, a decisão para retornar ou seguir em outro caminho.

Afastar-se é assumir a liberdade e direcioná-la ao bem, sem a influência alheia, mas com as motivações sinceras que há no coração; Decidir mudar para poder permanecer, na aprendizagem e na escola que é a própria história, do que já se viveu, alegrou, sofreu, chorou, sorriu. A saber, que a vida é linear e não somos determinados pelo passado nem tampouco pelas pessoas, somos livres.

Não, não se pode comparar, é talvez um critério capcioso para decidir. A decisão convicta, que não quer dizer imaculada e nem perfeita, mas certa e satisfatória pessoalmente, deve brotar da liberdade comprometida com a verdade do próprio EU; lugar difícil de chegar e encarar, mas é a pedra angular e fundamental para se construir e buscar a felicidade, contando obviamente com o auxílio inquestionável de Deus.

É preciso agir com o coração, é preciso CORAGEM! Coragem para assumir a própria covardia de não sentir-se preparado, de desistir e continuar de outra forma o amor, através da esperança, da saudade, da lembrança, de paciência. E acreditar sempre nas mãos providentes de Deus, único capaz de transformar o mal aparente num bem perene, de permitir que a distância seja ponte a unir e a aproximar corações. Ele sempre nos surpreende a partir do que Ele é, Amor inesgotável. Muitas vezes estamos distantes e ainda assim percebemos o quanto Ele nos é próximo, paradoxo de quem ama.

Em suma, quem é próximo não se abala com a distância, sabe esperar por causa do amor (Who loves wait!). Sobretudo, a distância sempre nos conduz a uma proximidade maior, seja a realidade/pessoa a quem optamos distância, ou ainda, a uma realidade nova que podemos encontrar, mesmo correndo o risco de uma possível distância, de um tempo, de um adeus, ou melhor, de um “até já!”

Hudson Roza
Enviado por Hudson Roza em 17/01/2010
Código do texto: T2035301
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