me ama por quem sou, ou me odeia

me ama por quem sou,

não pelo que tenho, que nada tenho.

ou me odeia,

mas me odeia também pelo que sou,

que o que tenho a oferecer

sou eu

de inteiro, para que ames

ou odeies, tanto faz.

trago comigo

a minha companhia

sempre que posso,

trago um celular de lanterninha para escrever meus versos nos espaços das mensagens,

trago a carteira sempre vazia,

trago cigarros,

trago um binga, mas vou eu

comigo

desligado deste mundo.

por isso eu sou

ausente, por isso:

não me exijas

nada,

eu sou distante em corpo e alma de tudo o que me é próximo,

por isso eu não sei amar,

só sei amar de vez

em quando,

em quando eu amo sem sabê-lo,

descompromissadamente

por uns instantes.

se me amas

deixa eu ser quem sou,

deixa eu ser sozinho

que eu te levo

tu também, comigo eu levo,

não me exijas nada.

não ames os meus defeitos,

nem as minhas qualidades, ama-me menino

sem malícia,

eu sou moleque e sou ingênuo,

ama-me ingenuamente,

ou me odeia,

me odeia com o coração pra que o teu ódio nunca seja

indiferença, me odeia com espadas

e me incita que eu batalhe,

não me odeies escondido.

quem odeia escondido recolhe o ódio,

ulceroso. me odeia abertamente

ou me ama,

me ama sem que me conheças

nem por fora

nem por dentro... eu mesmo eu sou

só a metade do que eu seja

e a metade, justamente,

que eu

não compreendo.

deixa que eu me descompreenda sozinho,

deixa eu pensar deus

e o mundo

sozinho, menino de rua

andando solto por aí.

ou me odeia.

que a quem odeia

é insuportável

que eu exista, como a quem ama,

a minha ausência,

a minha ausência diária de todas as coisas,

a minha mente alienada da realidade,

o meu devaneio tolo,

tudo isso é meu,

tão-só meu, meu egoísmo absoluto

e indivisível,

eu.

deixa-me eu,

respeita-me eu, depois me

abraça,

amando ou odiando,

que eu não sei amar, mas

nunca eu pude

aprender também

que seja o ódio,

porque eu amo

e eu odeio,

fazendo-o sempre muito embora

com amor.