a mão

talvez minha mão

não tenha sido de todo - cura.

enferma...

talvez não tenha tido o toque, a maneira...

talvez minha mão não tenha sido

ligeira

a tempo... vagarosa,

como que delineasse um fio mudo

reto,

curvo,

fio-mundo,

cada passo - um depois do outro, com um tom de medo,

com um jeito estranho de não querer que

ninguém caia,

contanto sem lonjura,

sem fun-

dura,

contanto tênue tal que não avançasse...

talvez as teclas fossem todas trocadas, aos retroses

faltassem agulhas...

talvez aos ventos faltara o meu assobio

que eu deixara recôndito,

no hospício,

no hospital, na farmácia...

talvez ao meu canto faltasse a palavra...

ou faltasse o silêncio.

talvez tenha faltado que eu não fosse tão bruto com as coisas,

tão capcioso... talvez tenha faltado o meu dolo...

se bem que não! talvez minha mão

não fosse para curar,

mas para matar.

talvez fosse só (e simplesmente) para amar; tocar falha,

sentir falha,

sofrer indigna, humanamente...

silenciosamente...

talvez fosse para isso o tempo todo.

nem para ser deus, nem

para se doar.