O BARQUEIRO DO AQUERONTE
Prisioneiro sou, do instante
de um prisma celeste
qual folha forra, desprezada
e inservível, à planar
alçando silente a boreste.
Se, de antanho, me haviam
por belo e galante
e quando voava, então
só asas triunfantes
com a Estrela da Manhã
encimando o meu norte
vejo-me agora precipitado
ruindo direto ao Hades.
E vou sem freio que me conteste.
Sou palha e mais que palha
esquecimento. sigo etéreo
ao sabor de toda sorte.
Para o cruzar do rio
cabal, espero o barqueiro
à findar-se a travessia
alcançando momento derradeiro.
E só não seguirei tão sózinho
porquanto ainda como alento
me acompanhará a poesia
Ricardo S. Reis