O BARQUEIRO DO AQUERONTE

Prisioneiro sou, do instante

de um prisma celeste

qual folha forra, desprezada

e inservível, à planar

alçando silente a boreste.

Se, de antanho, me haviam

por belo e galante

e quando voava, então

só asas triunfantes

com a Estrela da Manhã

encimando o meu norte

vejo-me agora precipitado

ruindo direto ao Hades.

E vou sem freio que me conteste.

Sou palha e mais que palha

esquecimento. sigo etéreo

ao sabor de toda sorte.

Para o cruzar do rio

cabal, espero o barqueiro

à findar-se a travessia

alcançando momento derradeiro.

E só não seguirei tão sózinho

porquanto ainda como alento

me acompanhará a poesia

Ricardo S. Reis

Ricardo S Reis
Enviado por Ricardo S Reis em 14/03/2007
Reeditado em 24/04/2007
Código do texto: T412375