PRISÃO VOLUNTÁRIA

Julieta de Souza

Uma parte de mim

ficou presa à infância

e de lá não quer se soltar.

Insiste em ficar

Nesse seguro lugar,

Onde é bonito viver

Só para ver o sol nascer.

Onde é fácil amar

Um passarinho a voar.

Onde há imenso prazer

De se ver cachoeira descer.

Uma parte de mim

Se recusa a crescer

E teima em não aprender

O que o progresso ensinou.

Em minha cabeça expirou!

Uma parte de mim fecha os olhos,

Não quer ver o lado adulto

Que mesmo cercado de gente

É feito de solidão.

É não ser braço de rio.

É não ser asas do vento.

É não ser pernas no mundo.

Sofrimento.

Uma parte de mim

permanece imersa ao princípio da vida

Sou feliz com tão pouco.

Sou feliz com o sol em meus olhos.

Com a brisa em minha face.

Enxurrada em meus pés.

Caldo de manga escorrendo em meus braços.

Na boca, o gosto da simplicidade,

Nos pulmões, o cheiro da liberdade.

No estômago, a beleza sendo digerida:

Natureza sendo comida!

Inocência que não se perdeu

Sou eu!

Olho para as coisas mais simples,

pequeninas coisas talvez,

transbordando em minha vida,

Alegria que explode!

Eclode em meu peito.

Meu olhar inocente

não sente

as dores sofridas.

Minha inocência permite

gozar o lado belo da lida.

Uma parte de mim

Recusa-se a se comportar

como a sociedade ditar.

Telefone que toca,

não corro para atender.

Televisão ligada,

não paro a vida pra ver.

Festas e badaladas,

não preciso pra me divertir.

Prefiro mesmo é sorrir,

Olho no olho,

conversa que vale ouvir.

Letras e mais letras nos livros,

Palavra que vale descobrir.

Estrelas e lua

iluminando meu pranto

que é de emoção

em participar

da festa mais linda que há:

VIVER!