Poesia mata (3 partes)
A poesia me atravessa. Na diagonal
Rasga o nexo, ginga, brinca de abismo
Lança-se sem rede
A poesia me espreita. Esperta
No estreito. Mexe comigo e se esconde
Depois volta e fica
A poesia me inquieta. Desperta
Inquieta. Nada preserva
Depois mata. Ressuscita. Brinca com perigo
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Palavra de navio é rota
A palavra dói, quando verdade. Rói, quando saudade, conforta quando solidária.
Ata, quando de amor. Firme quando é de luta. Fere quando de mágoa.
Ágil quando é água, rio
Completa quando é mar
Prazerosa quando é gozo
Alegra quando é carnaval
Sexual quando anima
Animal quando domina e predomina sobre o racional
Palavra de navio é rota, pensamento é peixe, isca e vento
Palavra para mim cria, criva, determina
É bússola e norte. Caís e partida
Palavra é molde de quem nos fez. Tem duas partes
Uma que finca outra volátil
Uma que rima outra que prosa
Uma que chega outra que p(arte)
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Palavras do Bememal
Camelo e dromedário. Qual a diferença entre pagamento e salário, pilantra e salafrário, pirilampo e vagalume, rã e perereca, calvo e careca, esporro e gozo?
Tudo parece igual à distância. Normal. Palavras são só detalhes. Entalhes. Diferenças pequenas. Crenças. Seitas. Distinções. Dialetos.
Não tem nada a ver. Comparação boba, mas me parece conversa de diferenças, de quem crê e de quem nega a crença, os dois lados de uma mesma face.
De quem gosta do dia e nega a noite.
Homem e mulher. Metafísica, materialismo... Lados e prismas do mesmo real.
Essa conversa de que o a mulher saiu da costela do homem, me parece conto infantil. É sim verso, inverso bom.
Do um nasce o dois; os dois fazem o três. Etc e tao.
Adão era machofêmea (um), antes do corte. Eva (dois) a outra parte da unidade, agora partes soltas para criar a prole.
Bememal. Tudo é sal e farinha, do mesmo saco, do mesmo pote. Motivo e mote. Poema e poesia.