Repouso de um ancião

Sento-me em frente à lareira,

tentando aquecer os ossos, o corpo e a alma,

pois isto me acalma, me traz solidão.

Levanto-me, tento andar, inútil,

volto a sentar-me e a cabeça, começa girar.

A lareira que aquece não acalma, a alma

agitada se encontra em seus gritos vorazes.

Sussurros distantes bem longe, bem longe,

se me falta o calor, logo vem a dor que me

atormenta e me angustia,

sendo noite ou de dia não importa.

Preciso vencer a preguiça sair pra lutar,

O calor da lareira incomoda ,

mas fico postado no mesmo lugar.

Vislumbro distante, em cima da estante,

um livro já lido,relido, esquecido.

Poeira na capa indica que escapa do manuseio.

Poeira que jaz costumeira em toda estante,

no meio e na beira .

A tv desligada, parada, calada,

não fala, não traz a mensagem jogada ao ar,

de tudo que é inútil e estão a falar.

Fecho meus olhos, tentando sentir

o cheiro da noite que já se avizinha,

distante, porém não chega aqui.

A grande saudade que vem a seguir

e lágrimas matreiras,rolando na face.

As chamas vorazes fustigam a lenha,

tornado-as brasas vermelhas, ardentes.

E o calor que aquece já esquenta os ossos,

moídos, cansados do tempo,

inimigo feroz de um corpo doído, sofrido.

A morte, que espera sentada ao lado,

sorri compassiva do modo do tempo,

que gasta, desgasta, vergastando tudo.

A espera constante de mais um dia e a

angústia e medo da noite, espera-se o dia.

Estico o braço tentando alcançar

a taça cheia e inerte no fim do sofá.

Sorvendo o líquido que ela contém,

esquento meu corpo como me convém.

Tentando, com isso, acalmar o anseio,

acabar com o medo e todo receio.

18/01/02

Vanderleis Maia
Enviado por Vanderleis Maia em 28/11/2005
Código do texto: T77339