não quero mais ser deus

não quero ser o deus que ao mundo atenta nem ser capaz de discernir a imanente força em que o universo assenta os matizes do anil entre o céu e o verde do mar azul, azul não ser o moinho fabril dos sonhos como os dos ventos de Cabo Frio que alisam a branca areia da praia do Peró ou o Atacama, à brisa quente não inventei as ledas curvas e a poesia da mulher sestrosa, somente para eliminar a contradição entre os sexos e fundi-los em anárquica, imperfeita androginia não provoquei a chuva que se espraia e que faz brotar a semente rogo não ser o sol não conter Marte em meu âmago não quero mais a guerra nem revolucionária nem a pueril guerra de clichês rogo não ser o espírito criador primal rogo também não vir a ser um paria soando a elegia de um viver indigente carregado de negra noite de insônia percebendo sentido em um claro dia lisérgico não quer ser responsável por aquilo que te alegre a mente e te faça bem, por tão mal pelo amor ou pelo efêmero pelo esquecimento pela permanente mobilidade da pulsão narcísica não sendo, eu, deus, não insista também me nego a ser monista e ver o divino em tudo com a fé que à quase tudo fia, ser cultor da metafísica, ser o sagrado ente, o ator que atue todo o dia e alem do mais, com fervor, ser capaz como Artaud de encenar o sentir profundo não mais ser o fomento das maravilhas do mundo compraz-me contempla-las e derramar alento

Ricardo S. Reis

RicardoSReis
Enviado por RicardoSReis em 14/01/2008
Código do texto: T816055