Poetando despretensiosa mente

a minha letra é sincera

séria

subversiva

incisiva

imprecisa

preciso dela

é sangue

mangue

manga amarela

primavera

pasto próprio sem seguidor ou mestre

alimenta-me

ela

entretanto

não come em qualquer prato

não se sujeita

estreita

não é afeita a enfeites

mas mata a sede por aí

em toda poça

bebe em todo copo

vagabunda

torna-se forte

mas seca no deserto

não pede socorro

não corre

mina água própria

seiva

é paradoxal

às vezes me complexa

busca quem a leia

mas é alheia ao sucesso

não se rende

desprende

sem apego

feita de aço concreto asfalto

já desistiu da alquimia

há tempo

de magia

esoterismo

quer sim

como qualquer

um afago gostoso

a treta dum corpo escorreito

onde deite

deleite

carinho

carícia

minha poética é sozinha

grita na cidade

louca

rouca

não cala

enfim, é assim como eu:

não segue novela

vive só

no meio do povo

está sempre fora do prumo

com eu

à margem

sem rumo

mas não crê em destino

não faz mais a hora

nem espera acontecer

nem sempre rima

ri um pouco

navega por aí e voa livre

no espaço restrito

que disseram: viva

entre contrastes

e contratos

emoldura situações

aflições

considerações

despretensiosa

mente

sempre

...

Da série: “Filosofia baratas e descartáveis”