Canção dos pobres soldados

Veja dona Joana

que chora por seu filho

e vive triste destino,

já longe das rodas se samba.

E veja Dona Carlota

que rasteja sem ter salário

e nada num velho estuário

fazendo sua triste rota.

Cheire Dona Verônica

sofrendo forte enfermidade.

Em sua avançada idade

vê a vida passar, atônita.

Ouça a voz de seu Pedro

que sempre viveu gritando

para acabar com o espanto

e acabar com seu próprio medo.

Toque em seu Amarildo

que sofre de Câncer de pele,

a ele muitos repelem,

só lhe resta tampar os ouvidos.

Fale com seu Francisco

que dorme em plena calçada,

jogado à beira da estrada.

A vida o deixou arisco.

E brinque com o menino Felipe,

às drogas já viciado.

Seus olhos, sem luz, um farrapo.

Sua vida acabar-se assiste.

E se achegue à pequena Sophia,

violentada dentro de casa.

Sua mãe, inofensiva, lutava

com o pai violento que bebia.

E agora olhe pros homens

agarrados à lutas vazias,

vilipendiados em rodas sombrias.

"Pelo amor!", o belo valor não desonrem.

Contemple a natureza criada,

harmonia e paz que vigoram,

lágrimas puras que choram

pelos pobres de vidas rasgadas.

Se achegue ao Madeiro erigido

sobre as bases da morte, o pecado,

lavando em suas vestes, o Amado

deu vida a esses sofridos.

E o tempo se vai no acaso

contando as purezas da vida,

cantando as belezas queridas

dos homens e mulheres resgatados.