DELÍRIO PAGÃO ou COISAS DO FUTEBOL

O gramado é um poema vegetal,

risonho e misterioso de tão verde.

A bola é o mundo a ser conquistado;

os pés, asas coloridas que conduzem

os novos mercúrios em seu voos pelo espaço.

Há em cada olhar fixado

na tela onde se desenrola a vida

um misto de medo, deslumbre

e esperança pejada de incertezas;

tamanha a dimensão da tragédia dantesca

ou apoteose fulgurante

encenada por esses gladiadores

vestidos com armaduras etiquetadas

- os que irão morrer ou festejar,

em tributo a César e outras divindades -:

corpos fechados a pensamentos perfurantes.

Arenas pós-modernas em delírio pagão.

E sem que se possa supor o desfecho

da contenda que se anuncia

em hinos que louvam gigantes,

a morte e o sangue derramado

em nome da liberdade,

que ainda não se divisa:

nas ruas desertas de gente

e de esperas por um ônibus

que nunca virá.

Tudo faz-se vazio:

as mentes e o interior da esfera

capciosa e inconsequente,

ditando a sorte,

espécie de roleta russa:

- sempre empenhada

em desconstruir mitos e impérios.

- por JL Semeador de Poesias, na tarde de sexta-feira, 04/07/2014, esperando o início do jogo Brasil x Colômbia -