LOGROS & MIRAGENS
Do alto da minha ignorância,
Contemplo os pormenores físicos da vida
E cada vez me convenço mais
Que os meus sentidos existem apenas para me iludirem.
Tudo o que se me apresenta, por mais insignificante que pareça,
Parece ter consigo o seu próprio desígnio.
Tudo me parece observar, com uma indiferença premeditada,
Como se eu fosse apenas um simples peão
Deste enorme tabuleiro de jogo cósmico.
Uma rocha parece estar imóvel, rigorosamente no local onde está,
Mas sinto nesta sua presença, um qualquer objectivo intemporal;
As árvores e as outras plantas,
Além de tudo o que é humanamente perceptível,
Parecem estar, por um estranho acaso, rigorosamente
No local onde se encontram;
E aves e os outros animais interferem na nossa vida,
Cada qual com as suas características, numa estranha coerência …
E vejo as nuvens a passarem, a chuva cair, o sol a brilhar.
Sinto o dia a correr, a vento a passar, o tempo a fugir,
Sem nunca os chegar a ver.
Por outro lado, tudo o que existe fisicamente mostra-me a sua sombra:
Quando está bastante calor, as sombras mostram-se acolhedoras.
Os meus olhos vêem a sombra, mas quando a tento agarrar,
Os meus sentidos dizem-me que a sombra afinal não existe…
E quando na água ou num espelho, eu vejo o meu duplo reflectido,
Eu sei que os meus olhos me estão a enganar
Pois eu não estou ali, mas apenas aqui…
Quando sonho, acredito no meu sonho, porque estou lá,
Mas, quando acordo, percebo que todos os meus sentidos
Me estiveram a atraiçoar …
A minha vida está povoada de miragens.
De tudo quanto vejo e sinto, o que é que existirá realmente?
E de tudo aquilo que os meus sentidos não me mostram
Quantas serão as coisas que na verdade existem?
Tenho receio de um dia obter as minhas respostas
E não saber qual delas mais temer:
- Se a verdade das mentiras;
- Se a mentira das verdades.
Um poema inédito de 30/08/2005,
(pens/21) Valter Ego