Entre copos e corpos...
Copo de conhaque duplo sobre a mesa.
Cigarro aceso, olhar lânguido, coração frio.
Um “Olá!”, cheirando a cebola,
Rebola a vermelhidão do vestido,
Estrategicamente convidativo,
Obrigando-me a emprestar um sorriso que não possuo.
Uma cruzada de pernas,
Uma história mentirosa,
Uma ereção que dinamita,
Uma aflição que grita,
Uma trepada sebosa.
Amanhece.
Ressaca,
Vergonha,
Cansaço,
Angustia,
Solidão.
Ouço alguém que desconheço,
Ainda despida de seus pudores elementares,
Dizer: “Depois você passa lá, ok...?”
Vomito com devoção na pia da cozinha.
Abro a janela.
Vejo um pássaro voando,
Ameaçadoramente livre naquele céu cinzento,
E, antes de imitá-lo,
Metros acima de operários e quitandeiros,
Prendo-me a um questionamento tardio:
Quando foi que matei o filho único de minha mãe?