Pequeno legado de um poeta
Vou-me embora, bem sabes,
Mas deixarei contigo o melhor de mim:
Ficarás com meus versos cansados,
Singelos em sua pequenez estética,
Que me fizeram sonhar infinitas vezes
E submergir outras tantas mais.
Deixarei-te, também, minha vã esperança;
Esta que, um dia, viu desabrochar seu sorriso
E amou-o desde o primeiro instante.
Fique com ela, é pura mesmo que pobre.
Ficará ainda com minha tristeza;
Está fonte que nunca cessa de jorrar suas águas
E elevou-me ao êxtase da sensibilidade poética;
Que me fez compreender o silêncio e amá-lo,
Por favor, não a desprezes...
Conheces os versos de Pablo Neruda?
Pois é, deixar-te-ei um livro dele.
Perdoe-me, porem, se estiver manchado,
Pois derramei muitas lágrimas ao lê-lo
Em noites frias de solidão dilacerante.
E por final, tendo tão pouco a lhe oferecer,
Deixo-te este coração calejado, sofrido e pequeno,
Que não soube gritar outro se não o teu nome.
Não lhe entregarei nada pessoalmente.
Enterrarei este meu pequeno legado e,
Numa noite de estrelas, quero que o exume.
E, se puder, por favor, arremesse uma oração ao vento
Por este que vai solitário encontrar o infinito.
Pois assim, quando tocar o escuro da noite infinita,
Meu espírito saberá que, ao menos por um momento,
Elevaste seu coração a este que lhe entregou a vida.