Pequeno legado de um poeta

Vou-me embora, bem sabes,

Mas deixarei contigo o melhor de mim:

Ficarás com meus versos cansados,

Singelos em sua pequenez estética,

Que me fizeram sonhar infinitas vezes

E submergir outras tantas mais.

Deixarei-te, também, minha vã esperança;

Esta que, um dia, viu desabrochar seu sorriso

E amou-o desde o primeiro instante.

Fique com ela, é pura mesmo que pobre.

Ficará ainda com minha tristeza;

Está fonte que nunca cessa de jorrar suas águas

E elevou-me ao êxtase da sensibilidade poética;

Que me fez compreender o silêncio e amá-lo,

Por favor, não a desprezes...

Conheces os versos de Pablo Neruda?

Pois é, deixar-te-ei um livro dele.

Perdoe-me, porem, se estiver manchado,

Pois derramei muitas lágrimas ao lê-lo

Em noites frias de solidão dilacerante.

E por final, tendo tão pouco a lhe oferecer,

Deixo-te este coração calejado, sofrido e pequeno,

Que não soube gritar outro se não o teu nome.

Não lhe entregarei nada pessoalmente.

Enterrarei este meu pequeno legado e,

Numa noite de estrelas, quero que o exume.

E, se puder, por favor, arremesse uma oração ao vento

Por este que vai solitário encontrar o infinito.

Pois assim, quando tocar o escuro da noite infinita,

Meu espírito saberá que, ao menos por um momento,

Elevaste seu coração a este que lhe entregou a vida.

Roniel Oliveira
Enviado por Roniel Oliveira em 29/07/2007
Código do texto: T584022
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