Deserto errante
Serpente escreve linhas sobre a areia
onde o vento as apaga sem deixar vestígios,
e o mar do sentimento nunca se enleia
onde não há oásis e os ares são litígios
ao som da tempestade onde não há a chuva
e os grãos são de areia pois não há o trigo,
instante de levar à vida real perigo,
quentura de causar queimadura em luva
nas mãos tornadas chagas sem furo de prego,
sob sol inimigo traduzido ao cego
que via na serpente refulgência e afeto;
enquanto a boa água bebida em chamego
dizia: - Vem amor, aqui, nada te nego,
vislumbremos estrelas sob mesmo teto.
Sem ter mais ânimo pra ser alguém diverso
ao lugar comum onde nada foi encontrado,
pois tal lugar somente era estar disperso.