Uma música estranha às vezes me entranha

Uma música estranha

Bate na minha porta

Um ritmo inerte me flerta

Uma poesia de entranhas

Me estranha

Um nervo exposto me arrepia

Um momento de insônia

Me explicita

Palavras destoam

E me desarrumam

Um sinal aclara no horizonte

E escurece o meu dia

Simultâneo

O instante e o distante

O infinito me mente

E me engana

O que penso me pesa

Preso

Levo nas costas a carga do imperceptível

Minha intolerância se educa

Há palavras que podem

E as que te fodem

As ditas

E as malditas

As de alcova

E as explícitas

As que irritam e pisam em calos

O galo que canta

O canto que cala

Minha nuca ferve

Meu sangue revolta-se mas me obrigo ao quieto

Canto para passar a onda

E nado por baixo da tsumani

São grandes os sonhos em suas grades

Os martelos repicam na noite e acordam todos

Sigo me relacionando com as coisas

E pessoas me soam estranhas

Seus objetivos imediatos

A falta de perspectivas

Seus ativos e passivos

Seu crivos que censuram meu uivos

Minha coleira aperta

Minha corda está curta

Abrevio a prosa para não parecer chato

Prolixo

Para não ir para o lixo do esquecimento

Para não revelar a senha

Personalidades

Heterônimos

Para não abrir meus recônditos

Dobro e redobro-me para caber na mala

E pronto. Ponto.