Copa

A seiva da folha não é tinta servível à escrita,

mas habitou o colo úmido-íntimo de Eva,

muitos já tentaram o sangue como letra

ou lacre capaz de fazer o envelope virar túmulo

vazio, como tenho tentado contrário a catarses.

-

Sentado na beirada do buraco oco, levanto,

o que há no retângulo sofre combustão

espontânea sem deixar fogo-fátuo ou cheiro.

-

Há um coque de arbusto sob nenhum crânio,

orelhas dos dois lados brotam com rubras

flores, e escutam os botões dos olhos silentes

sobre as covas vitais anasaladas e abertas,

não falamos da boca sábia que também se cala

sem segredos aceleradores ou doutras naturezas.

-

Fantasmas mortos-vivos que não me pertencem,

curiosos se aproximam em busca de alcance,

mas o distanciamento se faz espaço lúdico,

sementes caem das mãos como se estrelas

fossem jogadas avante apagando caminhos

ficados para trás, todos eles na contramão

das possibilidades de retorno mesmo ao pensar

que calou raízes capazes de verter seivas infames.

-

Sempre é desnecessário caminhar rumo ao fim,

há muito tempo recomeços ficaram sem prumo,

o que se inicia apenas é o sol levantado diário,

sem pretensão o corpo não transcende o que é,

admito orgulho de quem sou humilde súdito,

os pesos nos meus ombros são os de patentes

conquistadas pelas própria altura do sujeito

que a tudo sujeitou à lógica da razão e do sentir

e à falta de controle absoluto sobre tudo própria

da loucura; eis a razão de ainda pulsar vida

e o tronco cascudo e baixo que sustenta a copa.

Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 01/02/2022
Código do texto: T7442514
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