Copa
A seiva da folha não é tinta servível à escrita,
mas habitou o colo úmido-íntimo de Eva,
muitos já tentaram o sangue como letra
ou lacre capaz de fazer o envelope virar túmulo
vazio, como tenho tentado contrário a catarses.
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Sentado na beirada do buraco oco, levanto,
o que há no retângulo sofre combustão
espontânea sem deixar fogo-fátuo ou cheiro.
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Há um coque de arbusto sob nenhum crânio,
orelhas dos dois lados brotam com rubras
flores, e escutam os botões dos olhos silentes
sobre as covas vitais anasaladas e abertas,
não falamos da boca sábia que também se cala
sem segredos aceleradores ou doutras naturezas.
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Fantasmas mortos-vivos que não me pertencem,
curiosos se aproximam em busca de alcance,
mas o distanciamento se faz espaço lúdico,
sementes caem das mãos como se estrelas
fossem jogadas avante apagando caminhos
ficados para trás, todos eles na contramão
das possibilidades de retorno mesmo ao pensar
que calou raízes capazes de verter seivas infames.
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Sempre é desnecessário caminhar rumo ao fim,
há muito tempo recomeços ficaram sem prumo,
o que se inicia apenas é o sol levantado diário,
sem pretensão o corpo não transcende o que é,
admito orgulho de quem sou humilde súdito,
os pesos nos meus ombros são os de patentes
conquistadas pelas própria altura do sujeito
que a tudo sujeitou à lógica da razão e do sentir
e à falta de controle absoluto sobre tudo própria
da loucura; eis a razão de ainda pulsar vida
e o tronco cascudo e baixo que sustenta a copa.