Sobre o tempo e a porta

Há porta semifechada para

a volta acontecer, sem volta,

– a hesitação tremula – e, sem dúvida,

trêmula tenta de novo ênfase.

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Lá fora o sol de verão queima

a pele esguelhada submersa

na roupa de algodão fino e leve

com vocação para fio de nuvem espessa.

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O silêncio em relação a ela

pela primeira vez tenta explicação

sem ressonâncias incabíveis,

os pés numa cadeira alta nada pisam.

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Essa pequena altura não desconfortável

é humilde como o sofrimento,

como a menos tenaz das dores,

dor prazerosa de espremer um cravo.

-

Desde o mar, o ponto austral argentino

envia para o rosto algum frescor,

lá quase há mil e quinhentos metros

de profundidade há muitas milhas.

-

Lá a ausência da lua deu vez

a Vênus de desenhar, à noite,

rastro de prata sobre azul marinho,

o azul das profundezas mais profundas.

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A crença de nunca fechar portas

quase acabou com o esquecimento,

o melhor lenitivo capaz de romper

o círculo vicioso de si sobre si mesmo.

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Desde a montanha se fizera a onipotência

capaz de transbordar como vulcão

e invadir as janelas transparentes da alma,

o sangue agora está homeotérmico.

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A porta é a de uma casa abandonada

em ruínas, com todos os materiais

de demolição esvaídos do espírito,

como se fosse mágica a desconstrução.

-

A arquitetura atual em nada é gema

capaz de resgatar a chave jogada fora

dentro de um forno de fundição,

o momento só conjuga o presente e o futuro.

-

A eternidade não é mais a soma

de três tempos, um foi subtraido

para melhor resultado dalgum cálculo,

há inúmeros quilômetros na estrada, afinal.

Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 14/02/2022
Reeditado em 14/02/2022
Código do texto: T7451833
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