festa da poesia
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a porta do momento, aberta à força
contra a impedância das folhas chaveadas
onde as anotações são de memorial
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para que não hajam falhas na lembrança,
se fecham e se abrem de forma sanfonada,
não sem dor, tentam as letras da poesia
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embaralhadas como num jogo de cartas
marcadas, onde é tentada a sorte do coringa,
como se na essência não houvesse nada.
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e a cada folha é escrita uma epístola,
como se cada carta tivesse o destino
da garrafa lançada ao mar levando âncora
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para só ser achada pelo escafandrista
imerso no azul que sobe lento à superfície
na qual exista um porto para ser lido
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por abraço aberto em forma de enseada
para ver, talvez, um rosto em sorriso,
de repente, depois de haver o esforço
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do poema diante do raro reconhecimento
de que a poesia é o que é necessário
para sermos melhores do que sempre fomos
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no instante em que a folha é aberta
como se fosse porta de saída ou de entrada
ou vão em que nada é vão na vida.