A rotina

Mares de véus suavemente fazem das águas

carícias quando ocupam os sonhos

para sumir na bruma de quatro paredes

onde não há tempestade e o naufrágio

é de outra natureza emergente e além

da busca duma praia ou de uma rocha

onde nem a pequena morte é possível

as curvas são componentes de cintura

quando os braços dela formam enseada

e o que é submerso se revela hígido

quando a beleza é em sua força e essência

a fantasia é apenas pulso e sentimento.

-

O olhar não se seduz se apenas brilha,

acolhe a escuridão e apaga os faróis,

enxerga assim melhor que olhos abertos

quando os ouvidos escutam o silêncio

feito antes, como forma de respeito

ao que sucede dentro e é centelha

capaz de acender a pira do peito.

Enquanto o mundo acorda para o sábado

e a pele se ilumina sem bruma de dentro.

-

Para que a bruma seja sempre festejo

desde onde a escuridão guarda as vísceras

habitando entre elas essencial espaço

para que o plexo solar ilumine o alto

no encontro entre o apolíneo e o dionisíaco,

quando o céu é margem e mero limite

o mar se sobressalta de contentamento,

trazendo o próprio fundo a participar

de um dia alegre que virou, então, rotina.

Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 13/08/2022
Código do texto: T7581355
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.