Ouro de sexta-feira
As folhas do jequitibá caem do alto
sobre o mormaço hesitante do inverno,
o voto mais ouvido pelas sextas-feiras
é o de bom fim de semana para todos;
está decretado: é proibida a tristeza,
porque amanhã é sábado, véspera
de domingo! A praça está em obras,
nos botequins cervejas abrem brindes,
nas perigosas ruas ousaremos algo.
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Existe a alegria mesmo para os tristes,
mesmo que antigas casas tenha vindo
abaixo, nas ruas tortuosas e nas retas
abrem-se caminhos, o chão se fecha
para dar segurança aos nossos passos,
como se o próprio chão fosse a patrulha,
desde o caminho aos pelos eriçados
que se preparam para a fuga ou a luta.
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Falar meio sem propósito soa bem
aos ouvidos, talvez escutem o velho
boêmio, mas o mulherio avoento
se esconde atrás da fralda dos netos,
na vocação materna fraude da libido
de filhos não-seus, mas da descendência,
até que o tempo acabe para Bukowiski,
enquanto o sal da vida está nas rugas
do rosto sob o cabelo algo desgrenhado.
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Hoje é sexta-feira, esqueçamos de tudo,
o que passou, passou e já não vale a pena,
o uísque no copo é belo como o ouro,
mas não é ouro de tolo subindo à cabeça.
Por que as coisas são tão incomunicáveis
o poeta descrê no segredo do túmulo,
e fala, e canta e dança como Zorba, o Grego,
enquanto o céu sucumbe a força de vontade.