Ouro de sexta-feira

As folhas do jequitibá caem do alto

sobre o mormaço hesitante do inverno,

o voto mais ouvido pelas sextas-feiras

é o de bom fim de semana para todos;

está decretado: é proibida a tristeza,

porque amanhã é sábado, véspera

de domingo! A praça está em obras,

nos botequins cervejas abrem brindes,

nas perigosas ruas ousaremos algo.

-

Existe a alegria mesmo para os tristes,

mesmo que antigas casas tenha vindo

abaixo, nas ruas tortuosas e nas retas

abrem-se caminhos, o chão se fecha

para dar segurança aos nossos passos,

como se o próprio chão fosse a patrulha,

desde o caminho aos pelos eriçados

que se preparam para a fuga ou a luta.

-

Falar meio sem propósito soa bem

aos ouvidos, talvez escutem o velho

boêmio, mas o mulherio avoento

se esconde atrás da fralda dos netos,

na vocação materna fraude da libido

de filhos não-seus, mas da descendência,

até que o tempo acabe para Bukowiski,

enquanto o sal da vida está nas rugas

do rosto sob o cabelo algo desgrenhado.

-

Hoje é sexta-feira, esqueçamos de tudo,

o que passou, passou e já não vale a pena,

o uísque no copo é belo como o ouro,

mas não é ouro de tolo subindo à cabeça.

Por que as coisas são tão incomunicáveis

o poeta descrê no segredo do túmulo,

e fala, e canta e dança como Zorba, o Grego,

enquanto o céu sucumbe a força de vontade.

Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 26/08/2022
Código do texto: T7591686
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