A vergonha

Quando a vergonha engendra a lua

minguante e nela põe cabo de foice,

para que cabo e lâmina, ambos falsos,

tentem dizer algo para olhos alheios,

-

o globo gira, entorta o coração azul,

para o mar dos olhos ser ressecado

depois da língua, ela, depois do fato,

do rubor da face à espelho guardado.

-

O que eles pensarão da nossa imagem?

Mais ainda do vulto em nada diáfano,

sobre o qual as luzes são asas de corvo

caindo com as garras sobre as vísceras,

-

se a vergonha engendra a mentira

mal explicada capaz de engrolar a língua,

enquanto quem a ouve se finge de surdo,

indiferente ao drama, indiferente a tudo.

Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 26/08/2022
Código do texto: T7591690
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