A vergonha
Quando a vergonha engendra a lua
minguante e nela põe cabo de foice,
para que cabo e lâmina, ambos falsos,
tentem dizer algo para olhos alheios,
-
o globo gira, entorta o coração azul,
para o mar dos olhos ser ressecado
depois da língua, ela, depois do fato,
do rubor da face à espelho guardado.
-
O que eles pensarão da nossa imagem?
Mais ainda do vulto em nada diáfano,
sobre o qual as luzes são asas de corvo
caindo com as garras sobre as vísceras,
-
se a vergonha engendra a mentira
mal explicada capaz de engrolar a língua,
enquanto quem a ouve se finge de surdo,
indiferente ao drama, indiferente a tudo.