Dia dos pais
Um ladrido de sinos no domingo
espreguiça mais cedo o pai, hoje,
mas a Igreja ainda está dormindo,
quem badala é o coração do homem.
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Já foi filho, já foi pai, agora é avô,
já nos deu o lácteo véu da mãe
nas noites em que desejava o amor,
trabalhou até o fim dos dias que caem
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para os filhos organizá-los na memória,
mesmo se possuírem grenha alva,
longe do tempo em que a infância corria
sem nunca escorregar na estrada calva.
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Mais que a língua, mitos, pais são ícones,
dentro do céu da boca nos dão as palavras
com as quais atravessamos os ciclones,
como se os pais fossem portas e aldravas
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onde as nossas mãos encontram asas
para abrir a presença do amor ou da saudade.
Quem tem pai tem ao menos duas casas,
maldigo o pai que traia essa verdade.
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Minha mãe amou meu pai até o fim dos dias,
desse amor nasci, nasceram meus irmãos,
relembranças acendem luzes claras, luzidias,
hoje passeio com o pai e nos damos as mãos.