Curativo
com flor de trapo, pétalas de cretone
rosa, fios amarelados pelo tempo,
retiro da cortina com fio de tesoura
o que nem se costura nem se desfaz
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antes de beber ou de fumar ou rir,
ou admitir o sol que me queima a pele
em manchas provocadas pela maresia
por causa da excessiva luz caída
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nos olhos desatenciosos com imagens
vindas da catarata antes da ablução
do que se descamou como a última
mudança de pele da cobra branca
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como era a edelvais da ancestralidade
suíça imposta ao calor do trópico
nem sempre essencialmente humano
quando se aproxima o crepúsculo.
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corte de beira-mar onde oscila a água
e a luz, lugar onde se agacha o homem
em prol de uma sede que não pode
ser matada, como se mata o porco
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não só para ser mostrada a cor da banha,
antes da evisceração trocada em miúdos,
antes da orelha cortada após grunhido,
ou da indiferença à dor chamada silêncio.