Curativo

com flor de trapo, pétalas de cretone

rosa, fios amarelados pelo tempo,

retiro da cortina com fio de tesoura

o que nem se costura nem se desfaz

-

antes de beber ou de fumar ou rir,

ou admitir o sol que me queima a pele

em manchas provocadas pela maresia

por causa da excessiva luz caída

-

nos olhos desatenciosos com imagens

vindas da catarata antes da ablução

do que se descamou como a última

mudança de pele da cobra branca

-

como era a edelvais da ancestralidade

suíça imposta ao calor do trópico

nem sempre essencialmente humano

quando se aproxima o crepúsculo.

-

corte de beira-mar onde oscila a água

e a luz, lugar onde se agacha o homem

em prol de uma sede que não pode

ser matada, como se mata o porco

-

não só para ser mostrada a cor da banha,

antes da evisceração trocada em miúdos,

antes da orelha cortada após grunhido,

ou da indiferença à dor chamada silêncio.

Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 14/11/2022
Código do texto: T7649863
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