O pinguim e o rosto
pinguim após mergulho saio
do fundo e de terno o balanço
das asas na faixa de areia
pinga as letras do tecido
das cores preto e branco,
gravata borboleta negra voa
livrando do garrote o pescoço,
saber das profundezas do mar
é libertador, o seio dos vulcões
possuem bocas abertas, cospem
o inferno, isso é tão telúrico.
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queimadura do rosto no mar
é mais difícil, o mar abriga os
náufragos do convés em chamas,
as suas profundezas são mais
belas e plácidas, e os peixes
que o beijam não são larvas.
-
creio bem mais no mar
do que no que é simbólico,
seres das águas abissais
abrem mão do mergulho,
não necessitam da máscara
de ferro do escafandro.
-
o tórax do pinguim se estreita
sob pressões extremas,
cartilaginoso como é não sofre
o peso do mergulho, se estreita
e se dilata rumo à superfície
como se o ar estivesse
sempre a sua espera
até o instante dos pulmões
completamente abertos
sem emitir qualquer grunhido,
após mergulho na fundura.
-
o mergulhar assim silencioso
não exige do pinguim
a roupa de Neoprene,
nu ele está vestido e sabe
numa comunidade assim viver,
é difícil após mergulho
sair ao chão belo e recomposto,
a face é a superfície do corpo.