O pinguim e o rosto

pinguim após mergulho saio

do fundo e de terno o balanço

das asas na faixa de areia

pinga as letras do tecido

das cores preto e branco,

gravata borboleta negra voa

livrando do garrote o pescoço,

saber das profundezas do mar

é libertador, o seio dos vulcões

possuem bocas abertas, cospem

o inferno, isso é tão telúrico.

-

queimadura do rosto no mar

é mais difícil, o mar abriga os

náufragos do convés em chamas,

as suas profundezas são mais

belas e plácidas, e os peixes

que o beijam não são larvas.

-

creio bem mais no mar

do que no que é simbólico,

seres das águas abissais

abrem mão do mergulho,

não necessitam da máscara

de ferro do escafandro.

-

o tórax do pinguim se estreita

sob pressões extremas,

cartilaginoso como é não sofre

o peso do mergulho, se estreita

e se dilata rumo à superfície

como se o ar estivesse

sempre a sua espera

até o instante dos pulmões

completamente abertos

sem emitir qualquer grunhido,

após mergulho na fundura.

-

o mergulhar assim silencioso

não exige do pinguim

a roupa de Neoprene,

nu ele está vestido e sabe

numa comunidade assim viver,

é difícil após mergulho

sair ao chão belo e recomposto,

a face é a superfície do corpo.

Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 26/11/2022
Código do texto: T7658673
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