Palestra

Uma vez sobre um banco de praça

(Sofregamente pelo tempo carcomido)

Estava eu a soluçar minha desgraça:

O Malfadado de um dia haver nascido!

E de repente um velho aproximou-se;

Com a mesura educada de um bom dia,

E junto à mim, distintamente acomodou-se

Qual um faltasma que buscasse companhia!

Que fazes tu, assim num dia tão aberto? Sentado aqui; reclusamente afastado?

Me perguntou, e pra não ser mal educado

Lhe respondi: a solidão requer deserto!

Ele sorriu por me ouvir filosofando

Pigarreou , e se calou contemplativo...

Mas e o senhor, eu exclamei lhe perguntando:

Que fazes tu, andas aqui por qual motivo?

Me respondeu com voz discreta e amistosa

Todos os dias eu caminho pela praça

Pensando a minha juventude tão saudosa

Olhando a vida e a rapidez com que ela passa!

Pois o que um velho de melhor pode fazer

É se arrastar e lamentar sua lembrança

Com a loucura da saudade a lhe envolver

Uma mistura de tristeza e de esperança!

Toda manhã com o olhar cataratado

Vislumbro o sol a estatelar-se na janela

E penso baixo, num tormento perturbado

Em minha morte, será hoje o dia dela?

Preclaro jovem, vá viver a existência

Que esta vida é veloz tal qual um vulto

E a velhice, a velhice é um insulto

Para a beleza e a vigorosa eficiência!

Moreira Júnior
Enviado por Moreira Júnior em 19/02/2023
Código do texto: T7722995
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