Lembrança do hospício - poema do livro ainda inédito O medo do teto -.
-------- Dedicado a Cora Colatina
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Da varanda do quarto
olhava o pátio central
e um sol oblíquo sabe-se
lá de que hora banhava
grama clara seca cor
igual caldo de cana.
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Havia a desorientação
no tempo e no espaço,
nela aconteceu passeio
desde um extremo
ao outro, muro a muro.
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De lado de onde saíra
era muro sem reboco
com um pouco de casca
aqui e ali. Minutos
percorridos, muitos,
houve o dar de cara para
linha de fissura no
reboco do muro
do outro lado do lado
de dentro. Lá flor
de caule fino brotara
da cor esmaecida, hoje,
quase diáfana ao tempo.
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Voltou para varanda
tentando reencontro,
sentou-se na mureta,
como se a ira e a dor
tivessem ido embora
com os seus motivos.
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Logo sentou-se perto
interno de grenha rala,
magro como agulha
no palheiro; que disse:
Aceita um cigarro
de hortelã, meu chapa?
.
Há mais de vinte anos
que não mais fumara.
Mas como negar-se
a sentir algum aroma
da vida e do mundo,
algum frescor dádiva?!...