Embornal

Eu sou um homem comum.

Nascido de mãe preta e pai servente de pedreiro,

Oscilo entre a miserabilidade e a subserviência absoluta.

- O sol não me presenteia com sua claridade.

Logo pela manhã, enquanto outros devaneiam,

Desço a velha rua calçada com meu embornal xadrez

E a marmita que traz o alimento que me impede de morrer.

- O feijão-com-arroz é a benção do meu dia.

No barraco onde escondo minha vergonha,

A mulata triste reza pelo destino de suas crias.

Ela não tem vestidos; aprendera, logo cedo, a não ter vaidades.

- A pobreza só é bela nas telas do cinema que nunca entramos.

Meus filhos, coitados, doutrinei desde cedo

A lutar pelas migalhas que escapam a gula dos ricos.

Seus sorrisos são amarelos e raros como ouro de mina.

- Seus sonhos não têm cor nem sentido.

Eu sou um homem comum.

Nascido de mãe preta e pai servente de pedreiro,

Arrasto minha carcaça pelas madrugadas da metrópole muda.

- Almejo, um dia, ser gente.

Roniel Oliveira
Enviado por Roniel Oliveira em 13/09/2009
Código do texto: T1808833
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