TEMPESTADE

A chuva soca novamente o telhado torto das sobrancelhas acesas no escuro turvo do momento

desce deslizando na língua da saudade fugidia pintada de roxo, amarelo e cinza

colore os passos nessa mansão escura escancarada pela boca da alma sentada, sozinha

mancha os cabelos do dia, tinge de vermelho o vestido da noite, umedece as pernas da manhã

corre sem destino até tropeçar no toco minúsculo do vai e vem atroz que acorrenta a fala.

dança tristemente entre os pés descalços da agonia das horas inúteis em claro

esquecida, deságua no precipício infinito da solidão das tardes cegas a embalar o cansaço

sai caminhando às cegas, apalpando, os corpos nus em brincadeiras descabidas

vai atropelando gente, derrubando barraco, desmoronando o firmamento derretido

até acariciar novamente o leito pálido das nossas noites na areia, lençol de fumaça verde.

e principia um sorriso sedento com dentes podres e lábios rachados num cadafalso suspenso

enche os potes da esperança feito o cárcere pungente de um câncer exposto

cadencia o dedilhar invisível dessas palavras levadas pelo vento seco do porto-adeus

inicia um choro, um soluço, um resmungo infeliz de quem já não sabe o que dizer

e inunda de uma vez toda essa massa cinzenta em caminhadas hostis pela cidade.

Rojefferson Moraes
Enviado por Rojefferson Moraes em 31/08/2010
Código do texto: T2470837
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