JOÃO NINGUÉM

O pranto não era ouvido

Porque era sufocado

As lágrimas não corriam

Porque os olhos eram áridos.

A vida era tão sem graça

Vazia de emoção

No peito, quase parado,

Batia um coração.

Nas mãos, restos de carinho

Encolhiam-se entre os dedos.

Nos lábios, um sorriso cínico

Escondiam um grande medo...

Na barriga, a fome ingrata

Mastigava os intestinos

No cérebro, uma surda revolta

Empurrava-o ao desatino.

Na cidade um sonho sacro

Para quem tinha um teto

Pra ele, uma casa exposta

Na rua fria, ao relento.

Esperança não havia

De um dia ser alguém

Ler, escrever não sabia

Era só um “João-Ninguém”.

Ele, apenas uma criança

Não tinha como lutar

Sua única alternativa

Pra comer era roubar

Começou pela comida

Depois, outras coisas mais.

Um dia a sua vida

Foi manchete de jornais.

Deu quase uma página inteira

Seus crimes enumerados

Mas quem desgraçou “João-Ninguém”

Jamais se sentiu culpado...

Marsoalex
Enviado por Marsoalex em 02/11/2010
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