Menino de Rua

Amanheceu! O sol me desperta.

O corpo doido pela dura calçada.

Os pés sujos pela terra pisada

Sem sapatos e sem nada, me fazem chorar.

Buzinas e gritos, ruídos de gentes

Que sempre ausentes passam sem perceber.

A fome é real, a sede é sem fim.

E o que fazer de mim se esquecido estou?

Brinquedos são latas catadas uma a uma,

Vendidas por nada para a fome matar.

Papeis são dinheiro, o lixo é um tesouro

A sede aumenta, o trabalho é duro.

A vida é a escola e a matéria é a dor.

E seja como for, não dá para fugir,

E para onde fugir?

Para outra calçada, outra terra pisada por sapatos de couro.

Preciso de alento, nem que seja um momento,

E só o cheiro da cola me faz esquecer.

Furtar não é bom, mas também fui roubado,

De um sonho acordado que a muito se foi.

Violências nas ruas, gangues se enfrentam,

Meninos se matam.

E eu preciso de um Pai!

Não com vara ou chicote, mas de braços abertos.

Um ombro amigo onde eu possa apoiar

A cabeça cansada sem esperança e sem nada,

Iludida que um dia tudo possa mudar.

Que da dura calçada, uma cama, um lençol,

Um sapato de couro, um chinelo de dedo.

E alguém que me diga que o amor ainda existe.

E alguém que me prove que o amor ainda existe.

M Machado
Enviado por M Machado em 14/11/2006
Código do texto: T291155