Vendi-si esti Baraco
Vendi-si esti Baraco
Da janela do barraco
Pendurado no morro,
A vista se perde ao longe
Na lagoa transbordante
De lixo e de esgoto.
Num calor de quarenta graus,
O sol a pino levanta
A fedentina que se espalha
Pela baixada, causando
Mau estar e algumas doenças.
Algumas coisas não escapam
Ao olhar mais atento
E entristecido de um observador,
Não existe mais natureza
E o quadro há muito tempo mudou.
Nunca mais, Marias de lata d'água na cabeça,
As pipas empinadas não são mais um diversão,
Adeus espadas, petecas, amarelinha e pião.
Escurece e o vento frio
Que sopra no morro
Invade o barraco deixando
Um cheiro de pólvora
E mais alguns buracos
Na frágil parede de zinco,
Lá embaixo o campo de batalha fervilha,
Linha amarela, linha vermelha e adjacências.
Inocentes que não contemplaram o nascer do sol
Pela manha, vidraças quebradas...
...Amanhece, a janela do barraco
fechada e pintado na parede,
Em letras toscas feitas
As pressas, esta escrito;
Vendi-si-esti baraco.