AINDA NÃO É MAIO

Mães da Praça de Maio

Mães de Acari

Mães de Vigário Geral

Ainda não é maio

Mas eu quero cantar

Pra vocês, por vocês, com vocês

Fora de moda

Fora da mídia

Fora do tempo

Um singelo poema

Que não resolve nada

Nem aplaca a vossa dor

Desabafo de poeta que muito respeita

A incomensurável dor

De quem abraça em pensamento

E com cada lágrima

Molha chagas imaginárias,

Com cada cantiga

Tenta acalentar seu menino amedrontado

E em cada lembrança

Minuto após minuto

Dia após dia

Ano após ano

Pergunta, cobra, grita

Cadê ? cadê ? cadê ?

Se tem corpo, mesmo em pedaços

Quero velar, quero enterrar esse corpo

Se tem cinzas

Quero espalhar essas cinzas

Pelos mares, campos, jardins

Ave! Marias

Cheuas de tristeza

Matriarcas que cobram justiça!

Vossa luta é revolução

E não tem vencedores nem vencidos

Só desaparecidos

A vitória final

Não virá acompanhada de fogos

Nem de rajadas, nem de sorrisos

Só de um suspiro

Uma mulher e uma lápide

Uma lenta lágrima

Um sussurro no momento final:

Meu filho, minha filha

Te amo

Descanse em paz.

14/02/2006

- Poema utilizado no documentário "A mulher na escola" Do projeto do mesmo nome, no CIEP 165 - Brigadeiro Sérgio Carvalho.