A CIDADE DORME...

A CIDADE DORME...

A cidade dorme na noite que cai

Ondulam os troncos, as árvores dançam…

É todo um silêncio que chama, que atrai,

Não me vem o sono, os olhos não cansam

Um carro que rola descendo lá vai

Alguém dá uma passa e atira o cigarro

Mantém esse vício, dirá que distrai...

Prossegue o caminho, tosse com catarro

Chuvisca e na rua há água que corre

O frio já grassa pela noite dentro

E sai-me o poema que a mente discorre

Na escura varanda, medito, concentro...

A cidade dorme... é quase alvorada

Já se acende uma, e mais outra luz

Meus olhos já pesam, não dormiram nada

Eu sei lá as coisas que a pensar me pus!...

Pensei nos que nascem e na vida vão

Com tão pouca idade, tão breve passagem

Que sonhos os seus, qual foi a visão...

Que ideia tiveram, da vida, que imagem?

Nesses que trabalham duro sem horário

Nos pobres, nos tristes, nos sem sobrenome...

Nos... a quem não chega o magro salário

E por terem pouco vão sofrendo a fome

Nos que sem trabalho vivem mendigando

Em pátios dormindo, bancos sem abrigo

Nos outros, dos crimes, a droga passando

Em guetos, em becos, onde mora o p'rigo

Naqueles que mandam, nos que pouco fazem

Em prol da justiça ou da equidade

Cujas mordomias são pobres que as trazem

Que aos pobres exploram na realidade

A cidade acorda... há uma correria!

Crianças ao colo de mães apressadas

E vem o bulício de mais outro dia

Carros enchem ruas de gente apinhadas

Depois a notícia ... a TV, a gazeta,

A bomba que explode numa fúria extrema

Vejo horrível cena e pouso a caneta

Há gritos!... Há sangue!... E findo o poema.

Joaquim Sustelo

(em UM POUCO DE SOL)

Joaquim Sustelo
Enviado por Joaquim Sustelo em 16/07/2007
Código do texto: T566725