Transamazônica meu sonho de infância
Na década de 70
Após desenhada no mapa, eras tão pura
Escondias os planos dos coronéis da ditadura
Que preparavam um exército, linha de frente, bravura
Ora veja que aventura!
Enquanto que para nós __ Transamazônica
Eras um Cristo de braços abertos
Um cálice de sonhos inertes
Um jatobazeiro a produzir
Recebeste tantos andarilhos
Saciaste tantos brasileiros
Chamavam pra ti celeiro
Eras sem dúvida um viveiro
De homens bravios lutadores
De homens cruéis traiçoeiros
Eu que era tão pequenina
Gostava demais do teu verde
Amava a roço queimada
O coqueiro, a estrada, a rede
E, de São Paulo para as matas
Mesmo com o pium
Sem o sorvete e a coca cola
Caçava no mato canapum
Tomava banho no igarapé
Aos domingos brincava de bola
A vida opulenta aflora
A alegria era o cotidiano
Mas, outros povos foram chegando
Lotes vendidos
Colonos banidos
Quem ficou virou peão
E o sonho da colonização
Mostra o lado da enganação
Ah, Transamazônica!
Terra fértil para exploração
Tua imensidão
Uma espuma na mão
Teu verde se esvai em fumaças
Teu colono
Caminha para a periferia
Levando a menina dos sonhos perdidos
E despedem-se traídos
Corpo cansado
Mão calejada
Cultura desferida
Coração magoado
Infância partida