Transamazônica meu sonho de infância

Na década de 70

Após desenhada no mapa, eras tão pura

Escondias os planos dos coronéis da ditadura

Que preparavam um exército, linha de frente, bravura

Ora veja que aventura!

Enquanto que para nós __ Transamazônica

Eras um Cristo de braços abertos

Um cálice de sonhos inertes

Um jatobazeiro a produzir

Recebeste tantos andarilhos

Saciaste tantos brasileiros

Chamavam pra ti celeiro

Eras sem dúvida um viveiro

De homens bravios lutadores

De homens cruéis traiçoeiros

Eu que era tão pequenina

Gostava demais do teu verde

Amava a roço queimada

O coqueiro, a estrada, a rede

E, de São Paulo para as matas

Mesmo com o pium

Sem o sorvete e a coca cola

Caçava no mato canapum

Tomava banho no igarapé

Aos domingos brincava de bola

A vida opulenta aflora

A alegria era o cotidiano

Mas, outros povos foram chegando

Lotes vendidos

Colonos banidos

Quem ficou virou peão

E o sonho da colonização

Mostra o lado da enganação

Ah, Transamazônica!

Terra fértil para exploração

Tua imensidão

Uma espuma na mão

Teu verde se esvai em fumaças

Teu colono

Caminha para a periferia

Levando a menina dos sonhos perdidos

E despedem-se traídos

Corpo cansado

Mão calejada

Cultura desferida

Coração magoado

Infância partida

Sônia Portugal
Enviado por Sônia Portugal em 09/11/2016
Código do texto: T5817701
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