MENDIGO

MENDIGO

Esquina, local de trabalho do mendigo

Que ora pede, ora…ora

Aguarda sentado em banco antigo,

Lhe façam chegar sustento que vida melhora.

Vida difícil, a do mendigo. Vida rejeitada,

Leva o desafortunado companheiro

Que ao sol, frio, chuva ou geada,

Aguarda esmola, quiçá, algum dinheiro.

Da sociedade não guardará boa memória,

Talvez nunca o consigas perceber,

A culpa não será do fado ou da história,

Mas daqueles que o fazem sofrer.

Em cada igual, há um predador

Que sai à rua de noite ou de dia,

Para ti, guarda sofrimento e dor,

Para ele abastança e folia.

Como casa, deram-te um vão da ponte,

Como cama, uma esteira ou um cartão,

De comida; dos outros o sobrante…

Para companheiro e amigo: um cão.

Nos teus olhos mortiços, quanta humildade.

Na tua cabeça, quanta revolta e resignação,

Na tua face evidente insanidade

E por ti nenhuma compaixão.

Sociedade do fausto e do esquecimento

Que semeias dor, injustiça e amargura,

Não tens um pingo de vergonha ou lamento

E não revelas qualquer sinal de ternura.

Sociedade. Abjecta sociedade sem mágoa,

Escória de deveres e valores, qual fera,

Escreves o bem na água

E gravas o mal na pedra.