Não vá sair do teu quarto, poema de Joseph Brodisky

Não vá sair do teu quarto, não vá errar na saída,

para que tragar o Sol se podes fumar teu Shipka?

Da porta pra fora é inútil, sobretudo, o estar contente

vá apenas ao banheiro — mas volte rapidamente

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Oh, não vá sair do teu quarto, não dê chamada ao motor,

pois teu território é feito a partir do corredor

com final no taxímetro. Se uma linda for surgindo,

a presa abrindo, não deixe ela ir se despindo.

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Não vá sair do teu quarto; considere em ti um mau jeito.

As paredes e as cadeiras — no mundo há algo mais perfeito?

Pra que ir não sei pra onde se à noite voltas e ficas

do mesmo jeito que eras, mas como quem se mutila?

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Oh, não vá sair do teu quarto. Dance Bossa-Nova em falso,

corpo nu no sobretudo e salto agulha em pé descalço.

A porta cheira a repolho e a pomada de esqui.

Escreveste muitas letras; mas uma a mais sobra aqui.

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Não vá sair do teu quarto. Que só teu quarto, a propósito,

saiba da tua aparência. Mas ainda assim, incógnito

ergo sum, já sob a forma, corações em substância.

Não vá sair do teu quarto. Na rua há chá, não há França.

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Não sejas tu um maluco! Sê o que não foram os outros

Não vá sair do teu quarto! Anime os móveis, teu rosto

cole ao papel de parede. Feche uma barricada em giros

de armário contra cronos, cosmos, eros, raças, vírus.

Joseph Brodisky
Enviado por Fabio Daflon em 04/10/2021
Código do texto: T7356653
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