Não vá sair do teu quarto, poema de Joseph Brodisky
Não vá sair do teu quarto, não vá errar na saída,
para que tragar o Sol se podes fumar teu Shipka?
Da porta pra fora é inútil, sobretudo, o estar contente
vá apenas ao banheiro — mas volte rapidamente
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Oh, não vá sair do teu quarto, não dê chamada ao motor,
pois teu território é feito a partir do corredor
com final no taxímetro. Se uma linda for surgindo,
a presa abrindo, não deixe ela ir se despindo.
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Não vá sair do teu quarto; considere em ti um mau jeito.
As paredes e as cadeiras — no mundo há algo mais perfeito?
Pra que ir não sei pra onde se à noite voltas e ficas
do mesmo jeito que eras, mas como quem se mutila?
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Oh, não vá sair do teu quarto. Dance Bossa-Nova em falso,
corpo nu no sobretudo e salto agulha em pé descalço.
A porta cheira a repolho e a pomada de esqui.
Escreveste muitas letras; mas uma a mais sobra aqui.
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Não vá sair do teu quarto. Que só teu quarto, a propósito,
saiba da tua aparência. Mas ainda assim, incógnito
ergo sum, já sob a forma, corações em substância.
Não vá sair do teu quarto. Na rua há chá, não há França.
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Não sejas tu um maluco! Sê o que não foram os outros
Não vá sair do teu quarto! Anime os móveis, teu rosto
cole ao papel de parede. Feche uma barricada em giros
de armário contra cronos, cosmos, eros, raças, vírus.