SOPRA MINUANO!...

Vento que sopra pelos campos sombrios da minh'alma!...
Vento que varre as coxilhas das minhas lembranças!...
Onde me levas, vento ingrato?!...
Vento que bate e gela meu corpo,
destrói minhas esperanças...
Ventomais velho que o tempo!...
Varre no teu incessante galope, o último alento
de quem amou, como se ama uma única vez!...
Vento!... Impessoal, distante, implacável
como o amor que se foi e, no abandono,
condenou-me a solidão... Uma vida vazia!...
Vento!... Canta as amarguras de minh'alma,
Assobia ao léu nos campos distantes,
Talvez, um'alma errante, de um outro alguém,
que triste e só, amargurado pelo abandono de um amor,
encontre consolo na mágoa deste coração
que, solito nos pampas da vida,
nem lágrimas tem pra chorar!...
Nem voz pra chamar!...
Nem coração tem mais pr’amar!...
Apenas a tristeza como das velhas coxilhas,
carcomidas pelo tempo,
onde o pasto amarelado pelo frio,
deixa a descoberto, ao sopro do vento
que vai guasquiando,
cavalgando o lombo das rochas centenárias!...
Vento da minha terra, gaúcho irriquieto,
que a alma dos Pampas, cavalgue contigo...
Vento da minha terra,
busca, conta teus velhos feitos e desfeitos,
galopa, chega mais perto nas tuas andanças!...
Velho minuano de minha infância,
na falta de um alguém,
tu que guardas tantos amores e tantas dores,
leva minh'alma de volta pra casa!...
Que descanse no assovio da memória...

Santo André
SP-BR