A PRAGA DO ASNO

Moro neste recanto que nem sei

Como classificar, porque no fundo

Mais parece um apêndice do mundo;

Uma íngua sem ordem; regra; lei...

Populacho modesto, aconchegante

Que trabalha com fé, honestidade,

Mas parece não ter capacidade

Pra votar; eleger representante...

Nunca houve um prefeito nem edil

Que tivesse respeito pelo povo;

Atuasse de jeito inverso e novo;

Não fizesse da terra o seu redil...

O menos preguiçoso é incapaz,

Quem se mostra capaz já é ladrão,

Quando morre um maldito fica o grão;

A cidade não cresce nem tem paz...

Muitos dizem que tudo foi agouro

Dum asno dos tempos coloniais,

Que morreu a serviço dos feudais;

Sob carga excessiva de tesouro...

Era bicho pensante; animal raro

E nutria rancor; a sua mente

Deplorava o lugar, aquela gente

Com espírito insano; mau; avaro...

Tinha igual rejeição à covardia

Dos mais pobres, os simples, os escravos

Entre os quais nunca viu heróis ou bravos;

Era um povo que a nada reagia...

Foi por isso que o asno, já no fim,

Nos momentos finais antes da morte

Rogou praga, ditando a triste sorte

De que a coisa seria sempre assim...

... Foi-se o tempo, até hoje se duvida

Que um pequeno quadrúpede orelhudo

Possa ter influência sobre tudo

Nesta pobre cidade mal regida...

Sei, porém que a verdade bem notória

Desafia o passar de cada ano;

A população só tem perda e dano;

Seus feudais acumulam bens e glória...

Sei também que mudamos o destino

Ao nutrirmos amor por nossas plagas;

Que o povo rompe maldições ou pragas

Quando não é nem elege cretino...

Magé - RJ, junho de 2011.

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 07/06/2011
Código do texto: T3019912
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